Salamanca
Mas o Ventor também me falou de Salamanca.
Salamanca foi a 2ª Universidade a ser instalada em toda a Espanha, mas pode muito bem ser considerada a primeira uma vez que aquela que primeiro existiu desapareceu da circulação após cinco anos de existência. A 1ª foi aquela a que podemos chamar uma Universidade abortada, termo aqui utilizado como quando na Força Aérea, uma operação era cancelada, segundo o Ventor. Por isso, como foi uma operação cancelada após 5 anos de existência, o Ventor chama-lhe aborto. Essa Universidade abortada foi uma universidade criada, em Palência, em 1175 e durou até 1180. Por isso, Salamanca, ficou a ser a mais antiga Universidade Ibérica existente até hoje.
A Universidade de Salamanca foi fundada pelo Rei Afonso X, em 1218 e, segundo dizem os livros e os livros é que sabem tudo, é a 8ª Universidade mais antiga do Mundo. Talvez um dia fale aqui das 7 primeiras. Quem sabe? Pode ser que o Ventor lhe dê para me falar delas, mas agora só vos falo desta. Claro que uma Universidade não nasce feita como um ovo! Vai-se fazendo e os seus promotores fazem tal e qual como a galinha. Começam a cacarejar antes de pôr o ovo e muito mais depois de o pôr. Mas a galinha cacareja com a obra feita e os promotores de uma obra, como uma Universidade, cacarejam durante séculos. Senão vejam!
Nos primórdios desta grande obra, Afonso X instituiu-a com a categoria de Estudos Gerais do seu Reino. Isto, na época, queria dizer que se tratava de um estabelecimento público onde eram ensinadas diversas disciplinas, e onde podiam entrar todos os que tivessem merecimento para isso, garantindo também que os títulos conseguidos tivessem o seu "real" reconhecimento.
Por ter falado em cacarejar, recordo aqui que esta Universidade levou cerca de dois séculos a ter os seus próprios edifícios onde pudesse ministrar a docência. Até ser possuidora dos seus edifícios ministrava as aulas no Claustro Catedrático do Templo Magno da cidade, na Igreja de S. Bento e em algumas casas alugadas ao cabido e, ainda durante o reinado de Afonso X, conhecido por Sábio, os Estudos Gerais foram transformados em Universidade.
Foi um Cardeal de Aragão, de nome, Pedro de Luna, o seu grande protector vindo a impulsionar a compra de edifícios e a construção das Escuelas Mayores, o edifíco que a partir de 1411, passou a ser o edifíco histórico da Universidade. Diz-me o Ventor que esse cardeal foi o Papa de Avinhão, de nome, Bento XIII. Talvez venha a ser outra história num futuro roteiro de mais um "raid" do Ventor.
A Universidade era constituída por colégios que eram organizados conforme a origem maioritária dos seus estudantes e eram destacados como os mais importantes, entre outros, o Colégio de Oviedo, o de Cuenca, o dos Nobres Irlandeses ...
Esta Universidade, diz-me o Ventor foi a principal fornecedora de especialistas que administravam a monarquia espanhola. Foram matemáticos de Salamanca enacarregados de estudar a reforma do calendário de então, por um papa chamado Gregório XIII, propondo a solução que posteriormente foi adoptada, e de que resultou o chamado calendário gregoriano, o nosso calendário actual.
Salamanca atingiu o auge da fama nos finais do séc. XVI, quando ali conviveram alguns dos mais fomosos intelectuais da Península e que formaram a famosa Escuela de Salamanca. Por esta altura esta universidade admitia cerca de 6.500 alunos por ano o que a tornava uma das maiores universidades de então e foi nela que estudaram alguns dos mais famosos portugueses do Renascimento. Na actualidade, a Universidade de Salamanca tem mais de 35.000 alunos e é uma instituição muito prestigiada na Europa, onde cursam estudantes de todo o mundo castelhano.
Mas na vida de uma instituição, tal como na vida das pessoas e até dos gatos, há vários impecilhos que atrapalham a sua Caminhada, como aconteceu durante as invasões francesas. Muitos dos seus colégios foram destruídos pela vanditagem e para utilizar as pedras na construção de defesas.
As Bibliotecas da Universidade foram expoliadas dos seus melhores fundos, e muitos dos seus fundos foram recapturados na bagagem do rei José I após a batalha de Vitória, em 1813. Uma parte desses livros foram oferecidos, como agradecimento, a Lord Wellington, por Fernando VII.
Os restantes foram integrados na Biblioteca do Palácio Real e só foram recuperados pela Biblioteca da Universidade, em 1954.
As referências culturais de Salamanca são: as Catedrais, os Palácios de Anaya, de La Salina, de Monterrey, a Torre de Clavero, o Convento das Dueñas, a Casa das Conchas e os museus Catedrático, das Dueñas e Diocesano. Podemos dizer, mesmo, que Salamanca é um museu vivo.
Como sabem, Salamanca é uma das províncias que constituem Castilha e Léon e é parte cultural do antigo reino de Léon. Confina a Oriente com a província de Ávila, a sul com a província de Cáceres, a oeste com Portugal a norte com Zamora e a Noroeste com Valladolid. É a 3ª das 9 provícnias de Castela e Léon, com uma superfície de 12.336 Km2 e tem uma altitude média de 830 mts (mais ou menos a altura do Poulo do Muranho, diz o Ventor). O rio que mata a sede a Salamanca é o rio Tormes através do embalse de Santa Teresa. Nasce na serra de Gredos e sobre este rio, na cidade de Salamanca, existe uma belíssima ponte romana por onde passava a chamada Rota da Prata, uma estrada ou calçada romana que seguia desde Astorga até Cádis, passando por Salamanca, Mérida e Sevilha.
Mas esquecendo tudo isso, pois os objectivos eram Burgos e Picos da Europa, o Ventor que muitas vezes é do contra e prata para ele não conta, seguiram pela E80, rumo a Burgos, como já vos disse, de visita ao seu amigo Cid Espero ter-vos contado, embora muito resumidamente, tudo o que o Ventor me contou sobre Salamanca. Se falho alguma coisa, vai-me criticar até ao fim do ano mas, tal como ele correu por Salamanca, assim corro eu por aqui. Espero seguir na minha caminhada virtual para Burgos.