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A Arrelia do Quico

Somos todos filhos do Sol e amigos do Ventor

A Arrelia do Quico

Somos todos filhos do Sol e amigos do Ventor

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O Quico continua a observar-nos

Ele eras o mais lindo dos meus amigos. Eras o mais belo companheiro que qualquer pessoa gostaria de ter

 

 

 

 

Hoje tenho outro companheiro, amigo do coração, a que vim a chamar Pilantras.

A tua Dona diz que foste tu e a deusa Bastet que o enviaste para nós. Parece que o nosso amigo Pilantras continua a querer  ser tal  como tu eras.

Eu até acho que foste tu que lhe deste instruções para saber conviver comigo. Em muita coisa são muito parecidos. Pelo menos, tudo indica que sim.

Mas tu adoravas animais e ele não. Nunca me esqueço da tua luta para eu salvar o besouro a afogar na água entre os tronquinhos de banmbu


08.11.06

Os Grilos do Ventor


Ventor e Quico

O Ventor, às vezes, fala-me de vários bichos e continua a trazer-me fotos deles cá para casa. Hoje vou falar-vos dos grilos do Ventor.

Vocês se ouvissem o Ventor, provavelmente, estariam de acordo com ele. Ele já está farto de me contar peripécias da sua vida de criança pelas suas Montanhas Lindas e entre elas temos a sinfonia dos grilos.

A sinfonia dos grilos é uma sinfonia que acompanha o Ventor por todos os locais que passa, desde o Minho ao Algarve e outros locais, como Espanha. Em caminhadas curtas ou compridas, em férias, em passeios longos ou curtos, ele sente sempre a companhia dos grilos, mesmo que não os veja. Sempre que passa nas estradas ele nunca deixa passar aquela estridência sonora provocada pelos cantares dos grilos (quem sabe se ao desafio) como a soajeira cantada nas aldeias do Ventor, Soajo e suas circunvizinhas.

O Ventor ainda tem na memória conversas assim:

«Vamos lá Ventor, temos de lavrar esta terra toda até à hora do almoço". Esta era a preparação psicológica de seu pai para animar o Ventor a prossseguir aquela dura caminhada para trás e para diante á frente das vacas cangadas, guiadas pela soga. Depois dizia-lhe que não fosse até à pontinha do sucalco porque poderia cair ao rio, ele ou as vacas emporrarem-no sem querer e mesmo as vacas perderem o equilíbrio de forças e uma empurrar a outra com uma estucada do canzil. Havia um limite!

O Ventor pequenino dizia que sim a tudo mas havia algo que teria primazia. As vacas cangadas, puxavam o arado e uma ia pelo último sulco feito pela relha e a outra pela terra a lavrar. Por vezes o arado arrancava do ventre da terra um ou outro grilo. Quando um grilo aparecia no sulco onde o arado tinha rasgado a terra e a vaca que caminhava ali se aproximava, o Ventor corria a tirar o grilo para não ser pisado por ela. Isso originava desiquilíbrio na continuação da lavragem e, por vezes, até paragem.

Deixa os grilos Ventor, porque eles dão cabo dos milhos, das ervas e se morrerem não faz mal! O pai do Ventor não gostava destas paragens desenquadradas, originadas pelo Ventor na protecção dos seus amigos.

Este foi o último amigo grilo visto pelo Ventor. Andava a passear junto à piscina dos seus amigos e colocou-o em segurança. Ele tinha fugido da toca alagada pelas chuvas. Mas acredito que ainda o verei com asas, lindo como o de cima, a cantar para mim

Era mês de Maio e os grilos eram insectos muito lindos para o Ventor que gostava de ver aquele corpo negro, cabeçudo, coberto com aquelas belas asas castanho-amareladas a fugirem à sua frente e a saltarem do sulco à frente das vacas. O pai explicava-lhe que os grilos causavam muitos prejuízos para as poucas produções agricolas, e estragavam as raizes dos milhos. Mas o Ventor entendia que se eles foram colocados neste mundo pelo Senhor da Esfera é porque eles também faziam parte do nosso viver e deste Planeta Azul, portanto, deveriam ser respeitados.

Fora do trabalho das sementeiras, quando o Ventor ia aos montes buscar as vacas, parava nos poulos e sentava-se no meio das ervas primaveris a ouvir aquela belíssima cantoria entre os fetos. O ventor aproximava-se de rastos e olhava junto à entrada de uma toca um grilo a lançar mote para uma cantiga e logo a seguir começava outro e assim por diante. Quando esse grilo deparava com o Ventor as asas deixavam de vibrar e calava-se, dava meia volta e entrava pela toca dentro. O Ventor metia uma palhinha de erva seca no buraco e lá vinha o grilo a toque de caixa dar de caras com ele e depois fugia sem saber para onde.

Por fim o Ventor voltava a encaminhá-lo para o seu buraco e ele ficava lá dentro algum tempo calado, mas não tardava estaria, à porta, a cantar laudas ao Ventor por não lhe fazer mal. Era assim ano após ano. O Ventor apanhava dois grilos machos ou duas grilas fêmeas e cangava-os como se fossem as vacas. A canga era feita com um tronco de feto novo, macio e dois esgaravatinhos fininhos de urze que dobravam sem fazerem muita força para o feto os aguentar e faziam de canzil. Os grilinhos não gostariam mas tinham de colaborar nesse entretimento até o Ventor os soltar junto das suas tocas.

 
Mas que grande grilaria!

Mas havia uma coisa que o Ventor não gostava nos grilos! É que quando a coisa dava para o torto, na sua vida normal, eles lutavam até à morte. O Ventor não se recorda bem, mas julga que isso era apenas entre os machos. Lembra-se também que existem grilos cinzentos e que estes quando davam de caras com os grilos negros atacavam-nos e matavam-nos. Já viu grilos pretos mortos por grilos cinzentos mas nunca viu que um grilo preto mata-se um grilo cinzento.

Mas a amizade do Ventor por grilos foi uma constante na sua vida. Desde que o Ventor veio para Lisboa, teve, durante muitos anos, grilos, mesmo depois de casado em casa e em pleno local de trabalho. Chegou a ir aos sábados de manhã da Amadora a Lisboa, de propósito, mendigar aos seguranças para dar de comer aos grilos por sair, na véspera, sem se lembrar que era sexta-feira.  Quando os seguranças conheceram esta faceta do Ventor, eram eles próprios encarregados de, nos fins de semana, darem de comer aos grilos.

Agora o Ventor já não tem paciência para tirar os grilos das tocas por todos os motivos e mais alguns. Nunca lhes fez mal mas deixou de os transtornar tirando-os do seu ambiente natural. Porém, ainda é capaz de ficar um bom momento a ouvi-los cantar. É um som que nunca o cansa, gerado pela estridulação das asas, originando uma belíssima sinfonia de grilos!

Aqui o mesmo amigo. Disse ao Ventor que ia comer, mas voltava. E voltou! Isto durante o dia porque à noite ele foi ficar num local seguro debaixo de um banco de pedra. Já o ano passado andava ali o seu projenitor

Estejam atentos, escutem os grilos e verão que o mundo se tornará mais bonito.

PS: o Ventor ralhou comigo porque me esqueci de informar que os grilos têm umas fortes "mandíbulas" aptas a penetrar na pele de crianças distraídas. Ele já passou por isso e embora nunca levasse a mal aos grilos, não quer que as distrações de alguns venham a ser o mal de outros. Neste caso dos grilos. Por isso, meninos e meninas, cuidado! Cuidado para vosso bem e dos grilinhos. Disso eu sei que o Ventor percebe!


O Quico também sonhou ao lado do Ventor. A vida solitária e nefasta dos seus amigos que observava do seu Miradouro, foi sempre, a sua grande arrelia

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