Apresento-vos o Rafinho
Hoje apresento-vos o Rafinho ...
Este é o meu amigo Rafinho, que o Deus do Ventor já tem em sua guarda, lá na Esfera. Estava quase abandonado numa despensa! Foi a minha dona que teve pena dele e o trouxe para casa. Eu e o Ventor nunca mais vamos ter amigo assim!
O Rafinho
Quando cheguei cá a casa já o Rafinho era da família. Acho que o Rafinho fez tudo para eu ficar nesta casa. Eu era pequeno mas já era maior do que ele, só que ele estava bem tratado e eu cheguei cheio de fome e quase a morrer. O Rafinho chegava-se a mim e eu levantava a marreca e fungava para me ver livre dele, mas ele não me ligava. À medida que me fui habituando a ele e a ficar com a barriga cheia, comecei a alinhar com ele na paródia.
Deitava-me no meio da sala e quando o Rafinho passava por mim armado em corredor, eu esticava a pata e rasteirava-o. O Ventor ria-se e eu ficava todo contente com estes dois amigos. Eu já brincava com o Ventor e o Ventor na brincadeira, gritava pelo Rafinho a pedir ajuda. Dizia: "Rafinho anda cá depressa"! O Rafinho vinha desde a varanda em correria pela casa fora e quando me preparava para o rasteirar, eu chegava a ter medo dele! O Rafinho saltava e virava-se de repente para mim a fazer um barulho feio e a bater com as patas com tanta força na alcatifa que parecia furioso.
Quando o Ventor abria o correio, ao chegar do trabalho, mandava-me o envelope enrolado para brincar, mas o Rafinho é que brincava. Agarrava o envelope com os dentes mandava-o ao ar e dava-lhe cabeçadas, parecia um puto a jogar futebol. Eu ficava a divertir-me, olhando para ele. O Ventor perguntava-me: "ouve lá brincalhão, tens medo de brincar com o Rafinho? O Rafinho ainda é melhor que o Gomes, olha para aquilo"! Mas eu gostava era de ver o gaijo aos pinotes e à cabeçada ao envelope.
Uma noite, abri a porta da sala mal fechada e fui para lá com o Rafinho e dormimos lá juntos, toda a noite. A mãe da minha dona gritou pelo Ventor que o Quico, se calhar, matou o coelho. E nem foi capaz de entrar na sala! Eu já era grande e tinham medo do meu poder. O Ventor entrou, estava eu a dormir no sofá e o Rafinho por baixo, no chão de alcatifa. O Ventor fez-me muitas festas e ganhei a sua confiança absoluta.
Um dia em Milfontes, o Ventor começou a confiar em mim e deixava-me só a guardar o Rafinho no Quintal para que os outros gatos não lhe fizessem mal. O rafinho ficava só, deitado no meio das ervas, à sombra, e sentia-se um autêntico alentejano na sesta, enquanto o Ventor lia os jornais. Quando o Ventor entrava em casa dizia para eu olhar por ele, mas mal o Ventor se levantava, o Rafinho ia logo a correr atrás dele.
Não confiava que eu lutasse com os outros e os vencesse. Contarei coisas dos meus amigos e esperarei que alguém goste de ler. As pessoas que são más para os bichos não prestam. Eu sei disso!