Um ZX dos Diabos
Amigo!
O nosso carro preto. Era um ZX dos diabos!
Diz o Ventor que há amigos e amigos.
Vejam vocês e isto não é coisa de gatos, o Ventor até tinha um amigo feito de metais e borrachas. Não era um Carocha dos Diabos, mas era um ZX dos Diabos. Foi tão amigo, tão amigo, que até não dá para acreditar.
Foi um carro que, durante 13 anos e três meses só levou tareia (sempre estacionado) nunca bateu nos outros. Era um carro muito pacífico! De todos os carros que o Ventor guiou, foi aquele de que mais gostou e preparava-se, há três anos, para o reformar. Quando decidia ir a um Stand para trocá-lo, por um dos seus irmãos mais jovens, o Ventor olhava-o e dizia: «porque raio te vou trocar? Tu não me deixas ficar mal e se calhar vou arranjar um novo já cansado. Nah!»
Em três anos, o Ventor por duas vezes chegou a ir ao Stand, chegou a iniciar a hipótese de troca mas, ao sair, olhava o Preto e dizia-lhe que se estava a sentir um traidor. Um bom amigo nunca se abandona! E lá foi continuando com ele. O Preto era para nós um bibelot, até para mim que não gostava de andar nele!
Cheguei a ir nele com o Rafinho (o nosso coelhinho anão), com o Ventor e a minha dona para vários sítios, especialmente para Milfontes, uma das paixões alentejanas do Ventor.
Eu e o Ventor guardávamos o Rafinho dos outros gatos num quintal cheio de ervas, junto ao rio Mira. Mas o Rafinho não confiava em mim e mal que o Ventor entrava a porta para ir buscar uma bebida, o Rafinho era o primeiro a entrar porta dentro e eu ficava ali à sombra à espera dos dois. Ele andava sempre junto ao tornozelo do Ventor. Quando regressávamos a casa, o Ventor iniciava a marcha e dizia para o Preto: vamos Preto, porta-te bem que quero que este Maralhal chegue a casa inteirinho. Eu não sabia como estar e o Rafinho também não ajudava muito, mas lá regressávamos sempre inteiros.
Agora que o Ventor tinha tomado uma decisão, de comprar outro carro mas ficar com o Preto para ir visitar os seus amigos bichos, nas suas caminhadas mais curtas, um outro preto, este de África, armado em campeão atravessou uma rua com 9,20m e foi-se despedaçar contra o nosso Preto.
Apanhou de raspão um Golf novo pelo pneu traseiro que estava à frente do Preto em cima do passeio e atirou com ele contra o nosso partindo-lhe o farol dianteiro esquerdo, enfeixou-se na porta dianteira esquerda do nosso e apanhou o sinal de proibição de estacionar que foi partir a porta traseira do nosso Preto.
Apanhou com um Golf, com um Tigra e com o sinal, tudo em cima dele! Na véspera o Ventor tinha-lhe dito: tu não vales quase nada em termos comerciais, mas foste um grande amigo e eu não te vou enviar para a sucata, estás muito bom e ainda vais ir comigo, mais uma vez à Pedrada. Vais ficar nas minhas montanhas lindas à sombra das canecipes a ver-me subir as encostas e esperares para me veres descer, como sempre fizemos. Pelo menos mais uma vez!
O Preto ficou tão contente que ficou a sonhar com aquela vontade do Ventor de voltar com ele àquelas maravilhosas montanhas. Ele estava muito bom e como diziam aqueles que sabiam tratar dele, só um cataclismo o colocaria fora de circulação. Agora levam 4.000 euros para o arranjar, mas o Seguro, só quer dar ao Ventor 450 euros! O valor venal! Ora se trocasse o Preto, só na troca, as Finanças davam-lhe mil euros pelo seu abate! Afinal pagamos os seguros para quê?
Mas o Ventor não vai com as chulices dos seguros. Não vai, não! Agora vejam! O Ventor já foi ao ferro velho à procura das peças para o seu Pretoe não arranja, mas a Citroên arranja-lhe as peças todas novas por 600 euros. Depois é só colocá-las! O Ventor acha que vai tratar mesmo do preto. Se não houver danos estruturais como parece, vai mesmo tratar dele e vai pelo menos, gastar os seus pneus novos!
A verdade é que o nosso Pretofoi acordado de um sonho às cinco e tal da manhã de um domingo e o Ventor também estava a sonhar quando a campainha nunca mais se calava. Levantou-se, vestiu o robe, espreitou pelo ralo e pronto. Um polícia! O Ventor abriu a porta e o polícia disse logo: um gajo deu-lhe cabo do carro. Partiu-lho todo!
O Ventor vestiu-se calmamente. Afinal não tinha pressa de ver o seu Preto todo partido. Saiu de casa e, em volta do nosso Pretoestavam sete polícias, um preto africano de telemóvel na mão a contar a sua desgraça a alguém e mais umas pessoas. A primeira coisa que o Ventor ouviu foi o outro preto, o africano, dizer ao telemóvel: eu sei que voo ser preso, pá! Ouviu também um dos polícias dizer-lhe que já estava farto de o ver ao telemóvel. Em vez de responder às perguntas, parecia que estava com vontade era de gastar o telemóvel com conversas sem interesse e ele tinha mais que fazer!
Depois? Bem, depois tem sido o diabo. A ranhice da seguradora do outro indivíduo Os números, os faxes, os valores isso eu depois conto-vos quando o Ventor me deixar.
PS. O Ventor chegou há pouco da Oficina e já sabe que não há danos estruturais!